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Seus romances são painéis urbanos de uma sociedade que, embora chegando a ser a atual, se enraíza nos velhos hábitos e costumes de um passado relativamente recente. Nessa recriação, Hilton Sette é realmente um mestre. Não há como duvidar de tal assertiva: seus livros se esgotam rapidamente; têm o sabor da hora que passa e mais um toque de saudosismo natural, que vem com os tempos e com as tendências do espírito de cada um.
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O caso de Hilton é diferente. Ele vive no seu pequeno universo, recolhido, modesto, quase solitário. Seu mundo intelectual é a ficção, que se desenvolve cada vez mais, como que aguçada pela visão interior de suas paisagens e dos seus cenários. Muito admiro o seu trabalho quase de monge. Nas cartas de Rainer Maria Rilke e um jovem amigo - sempre tratado como Sr. Kappus - há sempre, a cada passo, a exaltação da solidão como clima ideal da arte. Creio que se pode dizer isso de escritores da categoria e do feitio de Hilton Sette - ele mesmo um homem meio para dentro do que para fora; mais de sua recriação íntima do que das exterioridades da vida. Seus romances têm essa fonte de suprema beleza.
Ele agora nos traz a Biografia de uma Velha Senhora, romance escrito em 1983, e esse seu novo livro é um encantamento como enredo, poder narrativo e intrínseca poesia, como acontece com sua literatura, a sua maneira de ser e de escrever. Diria desse romance que ele é “rurbano”. Começa no meio rural e termina no Recife, descrevendo sua trajetória sentimental que permite ao ficcionista apanhar todos os aspectos dessa viagem feita de sobressaltos e de tragédias. Há um ar de tragédia em certos momentos. Até mesmo um personagem que tudo indicava estar morto, em face das notícias de jornais, está vivo: parece, a certa altura, um mal-assombrado que entra em cena disfarçado.
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A biografia romanceada da velha senhora (título excelente) me deixou encantado, repito. Hilton Sette está na plenitude de sua arte. Tem o domínio completo de sua ficção, bem urdida e bem conduzida. Pondo tantos personagens em foco, movimentando-se tão diversamente, o escritor nos dá uma projeção nítida da sociedade atual, com o gosto que tem de ir sempre as raízes dos seus temas e das figuras às quais dá vida e ânimo e beleza.
O leitor vai ver que este romance de Hilton Sette lhe enche as medidas: é um trabalho de arte, uma fixação de costumes, um painel de nosso tempo; e que a velha senhora, tão digna no seu modo de ser, ainda representa as verdades essenciais das quais não nos podemos afastar. Seus romances não são de tese. Se fossem, convenhamos, não teriam talvez o êxito que alcançam. São conflitos do cotidiano tratado por mão de mestre.
Recife, 4 de outubro (dia de São Francisco de Assis) de 1986.
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O Escritor e Acadêmico Hilton Sette em sua obra, BIOGRAFIA DE UMA VELHA SENHORA, restaura com vontade e competência as raízes no tempo. É uma reconstrução de um mundo fugaz e que veio preencher uma lacuna existente na nossa literatura.
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O nosso acadêmico com o seu dom de garimpeiro traz até nós, um trabalho artístico da maior preciosidade para nossa cultura, onde exalta os costumes e os arraigados valores de uma sociedade que marcou época e ainda hoje influencia em alguns hábitos. Hilton Sette, escritor completo e insigne com sua estilística apropriada aos costumes e às circunstâncias da nossa nordestinidade, presenteia-nos com um belo romance, um romance revelação, um romance fremente de vigor”.