Iniciei minhas atividades profissionais em Maceió, como funcionário público, visando unicamente o ganha-pão. Trabalhei antes, em abril de 1933, no escritório da Comissão dos Estudos do Porto de Jaraguá (Maceió/AL).
No ano seguinte, submeti-me a Concurso Público para preenchimento de vagas de escriturário da Diretoria Regional dos Correios e Telégrafos de Alagoas. Aliás, rigorosíssimo por ser meu pai o Diretor. E mesmo assim, consegui ser classificado em primeiro lugar. O Concurso se realizou com a presença de alto funcionário da Diretoria Geral dos Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro. Seus examinadores foram escolhidos entre os mais idôneos e conceituados professores alagoanos.
Em 1935, três acontecimentos marcaram a minha vida: o nascimento de Hílcia (26 de janeiro), a nomeação e posse de função pública (13 de junho) e a graduação em Ciências Sociais e Jurídicas (03 de dezembro).
Hílcia Maria, minha primeira e única filha, nasceu na Ladeira do Brito, 65, Maceió. Não estávamos sós naquele quarto de casal. Minha mãe e a parteira, Suzana, assistiam Lúcia. Ela sofre... As horas passam... A expectativa... Começo a me preocupar... E, em dado momento, pela madrugada, a um gemido mais forte, minha mãe anuncia lá fora, para meu pai e meu irmão: nasceu... Uma menina! E eu confirmo, quase numa ação de graças, Hílcia Maria!
Nomeado e empossado, assumi minhas funções, encarregando-me de redigir, à máquina, toda correspondência e expediente - ofícios, portarias, papeletas e ordens de serviço - da repartição. Fui locado no gabinete de meu pai. Em junho de 1936, sempre acompanhando meu pai, consegui minha transferência para os Correios e Telégrafos de Pernambuco, onde servi até abril de 1945, quando pedi a minha exoneração. É que, de volta a Recife, abriu-se a perspectiva de uma nova destinação profissional.
Com pouco tempo, percebi que o meu pendor não estava na burocracia. Felizmente, descobri a minha verdadeira vocação profissional no magistério, quando aceitei lecionar Geografia. O convite foi feito pelo colega da repartição e diretor do Instituto Porto Carreiro, Paulino de Andrade.
Assim, iniciei as minhas atividades docentes, ministrando aulas de Geografia, na quarta série do Curso Ginasial, noturno, do Instituto Porto Carreiro, reservado aos maiores de dezoito anos, chamado Artigo 100. Lembro-me bem de minha estréia, em 26 de Outubro de 1936. Ocupei-me do assunto referente às Ilhas Nipônicas. Essa aula teve um caráter decisivo. Estava de volta às lides escolares, tão de meu agrado e, agora, não como aluno, mas como professor, na missão de transmitir, didática e metodologicamente, o conhecimento geográfico aos meus alunos. E a Geografia era uma matéria de minha especial preferência, relacionada com o meu gosto pelas viagens.
O magistério foi uma ocupação muito comum a toda minha família, tanto por parte de pai, como, de mãe. Herdei, mais remotamente, essa vocação de meus bisavós. Antonio Rufino de Andrade Luna e Emília de Melo Luna foram professores primários municipais, com escola na Rua de Guadalupe, Fora de Portas, no bairro do Recife. Também inúmeros tios-avós, tios legítimos, primos e, principalmente, meu pai dedicaram-se à arte de ensinar. Com isso, não podia assim constituir uma exceção. O convite de Paulino me fez revelar a minha vocação.
A minha simpatia pela Geografia vem de longe... Da primeira infância. Ainda muito pequeno, deixei-me contagiar com o amor, o entusiasmo e a preocupação que meu pai dedicava à causa da França - invadida e mutilada pelas botas, em “passo de ganso”, dos “boches” do Kaiser -, durante a Primeira Guerra Mundial.
Recebíamos, semanalmente, a revista “L’Illustration Française”, com ampla cobertura sobre a guerra. Era um deleite, para mim, acompanhar, nos excelentes mapas, os recuos e os avanços do “front”, representado por uma dupla linha de trincheiras aliadas e germânicas. Sabia bem como localizar o Rio Marne, as fortificações de Verdun ou as ruínas de Rouen - redutos de batalhas memoráveis.
Essa semente de interesse geográfico germinou e floresceu tão viçosamente em meu espírito, que, mais tarde, ajudou-me a superar a má impressão que a arcaica metodologia do ensino oferecia. Essa metodologia reduzia a Geografia a uma mera descrição da Terra, como depositório de nomes de lugares, um verdadeiro rol descritivo de acidentes litorâneos, orográficos, hidrográficos e climáticos.
Tal não foi meu deslumbramento e crescente atração ao tomar conhecimento, já no exercício do magistério, de uma Geografia diferente, moderna, intuitiva, considerada uma ciência interpretativa e explicativa das paisagens terrestres. Uma Geografia que precisei re-estudar e me aprofundar colecionando, em minha biblioteca, tratados de mestres franceses, entre outros, Jean Brunhes, Vidal de La Blanche, Pierre George, George Chabot, Gourou e obras de autores brasileiros na Revista Brasileira de Geografia e Boletim Geográfico, ambos do IBGE.
Em 1938, o Prof. Cândido Duarte concedeu-me turmas de Matemática para lecionar na Escola Pinto Júnior. Também, o Colégio Nossa Senhora do Carmo me incluiu entre os seus professores. Em seguida, passei a dar aulas no Ginásio da Encruzilhada, Pio Décimo, Chateaubriand.
Na condição de professor de Geografia, lecionei em quase todos os educandários particulares recifenses, destacando-se o Nóbrega, o Marista, o Carneiro Leão, o Osvaldo Cruz, o Eucarístico, o São José, o Vera Cruz e a Pinto Júnior.
Em 1945, exonerando-me dos Correios, dediquei-me exclusivamente ao magistério. E no ano seguinte, assumi a cadeira de História das Américas e História do Brasil, na Faculdade de Filosofia do Recife. Também, aceitei o convite do Padre Bragança para ministrar a cadeira de Geografia Física, na Faculdade de Filosofia Manuel da Nóbrega, embrião da atual Universidade Católica de Pernambuco. Nos três últimos anos da Segunda Guerra Mundial, mereci a confiança do Diretor Postal Telegráfico, da Secretaria de Segurança do Estado e das Forças Armadas, para dirigir a turma dos Serviços Aéreos.
Em 1952, ingressei no corpo docente da Universidade Federal de Pernambuco, a convite de Mario Lacerda de Melo, como professor assistente da cadeira de Geografia Humana. E em 1953, fui professor do Ginásio Pernambucano, a princípio em caráter interino e depois catedrático de Geografia do Brasil, mediante aprovação em concurso de títulos e provas.
De professor a autor de livros didáticos, foi apenas um passo. Claro que apreciava os textos que adotava em minhas classes de autoria de meu saudoso amigo Aroldo de Azevedo. No intuito, porém, de que nossos alunos tivessem em mãos para estudar uma continuação de nossas aulas, retratando nossa maneira de ensinar, resolvemos, eu e Manuel Correia de Andrade, escrever e publicar pela Editora do Brasil S.A., de São Paulo, várias séries de compêndios de Geografia Geral, Geografia do Brasil, destinados ao Curso Secundário de primeiro e segundos graus. Tais livros alcançaram mais de quarenta edições de cinco mil exemplares e foram vendidos em todo o Brasil nas Décadas de 50, 60 e 70.