O romancista Hilton Sette mostra, pela primeira vez em literatura, a face humana da Boa Viagem dos nossos dias. Traz ele, para as páginas deste livro, toda uma teia de intrigas que acontece no "apartamento de cobertura" do comendador Raimundo Tacuruçá.
Não mais a pequenina povoação, "para onde as famílias retiram-se pelo verão", mas a Boa Viagem querendo ser a Copacabana do Nordeste. Uma Boa Viagem dos nossos dias, cheia de modismos, mulheres bonitas a mostrar seus traseiros nus num eterno desfilar de ninfas à luz do dia. A praia da juventude, tomada por edifícios que vão, pouco a pouco, substituindo as antigas mansões agora com novo status nos apartamentos de cobertura.
O romance retrata, pela vez primeira, as diferenças sociais de comportamento entre os habitantes da zona norte e zona sul da cidade do Recife, deixando a mostra o conflito entre o modernismo de Boa Viagem e o lirismo suburbano de Casa Amarela.
Traz Hilton Sette, para as páginas deste romance, os conflitos atuais das gerações: Um velho novo rico dado a aventuras (Raimundo Tacuruçá), convivendo com Cipriano Veludo, seu genro possuidor de um temperamento oposto ao seu, que acalenta o sonho de um dia poder voltar a viver num chalé, rodeado por fruteiras, numa rua tranquila de Casa Amarela. Os conflitos familiares, num forte emaranhado onde apresenta-se o lesbianismo e experiências sexuais outras, marca este romance cuja trama nos obriga a leitura da primeira a última página.
Li e reli "Apartamento de Cobertura", livro que você me concedeu o privilégio de ter em mãos ainda no original e estou convencido de que ele vai agradar - e muito – aos seus futuros leitores.
"Ze-do-Foguete", que não conheço, mas sei que vem por aí, pode ser bom. Não duvido. Dele já ouvi falar muito bem. Não será melhor, entretanto, que "Apartamento de Cobertura", no qual você mostra que é romancista de verdade, que sabe imaginar diálogos, sabe retratar situações e – o que é, talvez, mais importante – sabe criar tipos e urdir conflitos.
Sua linguagem, um tanto conservadora, formalista, mesmo, em muitas ocasiões, passa a ser descontraída e leve ao relatar episódios, ao descrever paisagens, ao comentar certos fatos.
Seus diálogos, meu caro Hilton, são perfeitos. Cipriano, convencional, metódico, arrumado, fala de um modo, de todo, convencional, metódico e arrumado. O Comendador, rico e "snob", expressa-se de outra maneira, exatamente como os ricos e "snobs" costumam falar. Os jovens – Ah! Os jovens – estes tropeçam nas palavras difíceis e se exprimem através de gírias que você colheu fielmente não sei onde e colocou nas ocasiões e nos lugares mais adequados. Uma delícia, uma perfeição, os seus diálogos!
"Apartamento de Cobertura" é um livro que atrai vivamente. Quem inicia a leitura das suas páginas dificilmente consegue parar. Sua narrativa - realista, mas suave – prende a atenção, interessa, desperta a curiosidade de qualquer pessoa. Para quem é tão ocupado quanto eu constitui até um perigo pegar no seu livro ...
Trata-se, na verdade, de um grande romance, mas é, também, sem dúvida, sob certos aspectos, um excelente ensaio, onde assuntos como o preconceito de classes, o pré- conceito racial e outros preconceitos são, direta ou indiretamente, abordados.
Fiquei contente em constatar que o Recife, o nosso querido Recife, tão rico em poetas, porém não tão rico em romancistas, ali está de corpo inteiro: suas praias, as avenidas, as pontes, o centro, um pouco dos seus subúrbios, o rio macio e belo, lembrado, às vezes, muito de perto, a força literária e o salutar bairrismo do grande Mário Sette. Isso enriquece um romance, isso engrandece uma cidade.
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"Apartamento de Cobertura", romance de nossos dias, onde se movimentam grã-finas de Boa Viagem, moças e rapazes da nova e das novíssimas gerações, contem palavras mais livres, expressões mais fortes, passagens mais ousadas, estórias, às vezes, um tanto apimentadas. Nada, porém, obsceno. Nada imoral. Tudo de muito bom gosto, aliás.
Esta novidade apreciável no seu mais recente romance não representa qualquer concessão às preferências de um certo tipo de leitor, mas uma imposição a que nenhum escritor poderá fugir se quiser ser fiel a época em que vive.
Você soube, muito bem, penetrar na realidade social do nosso tempo; ela está – quente , bem viva – em cada página do seu livro. E não poderia deixar de ser assim; doutro modo estaria o autor do trabalho – vitoriosamente – torcendo realidades, falseando situações e costumes.
"Apartamento de Cobertura" será sucesso de crítica e de livrarias. Suas excepcionais qualidades garantem um êxito absoluto.
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