A minha infância coincidiu com os anos da Primeira Guerra Mundial. Meu pai, em face de sua formação literária, era um exaltado admirador da França e dos Aliados. Pôs a sua pena a serviço da causa que defendia e seus trabalhos de ficção deram origem ao seu primeiro livro publicado: “Ao Clarão dos Obuses”. Lá em casa, a Guerra estava presente em bandeiras, mapas, fotografias de generais franceses - entre os quais Joffre, Gallieni e Fox. Dentro da limitação da idade, fiz um fervoroso francês. E gostava de acompanhar em mapas da Europa, do Norte da África e do Oriente próximo, com explicações de meu pai, a estratégia das frentes de combate, principalmente a quase estacionária linha de trincheiras separando os exércitos aliados das hordas dos “boches”. Acredito que essa familiaridade com as cartas geográficas tenha semeado em mim o interesse pela Geografia.
Guardo na lembrança, como se fosse hoje, o “11 de Novembro de 1918”. Papai voltou dos Correios, cerca das 14 horas, exultante de alegria e trazendo-nos a grande notícia. Havia sido assinado o Armistício. Terminara a Guerra com a vitória dos Aliados, inclusive, a do Brasil. Em nosso lar, abraços, beijos, muito entusiasmo. Fomos, à noite, à cidade, onde houve comemoração popular, muita gente nas ruas, corso de automóveis, lembrando o Carnaval. Eu e o mano ostentávamos, na mão, bandeirinhas de seda da Bélgica, França e Brasil.
Em 1917, fizemos outra temporada de meio ano em Caruaru e passamos o mês de junho (1918), em Gravatá, na casa de uma tia avó, a querida tia Iaiá. Em 6 de abril de 1919, passada a Primeira Guerra, com os perigos de torpedeamento dos vapores brasileiros pelos submarinos alemães, embarcamos no Itapura para o Rio de Janeiro. Hospedamo-nos em casa de Leandro de Figueredo, à Rua Matriz de Barros. Nessa época, tinha os meus oitos anos e Hoel os seus quatro anos de idade. Posso reconstituir, mentalmente, até em pormenores, a viagem por mar, os passeios, as visitas aos parentes e amigos, os pontos pitorescos, a convivência com os filhos de Leandro... Regressamos no Itagiba, aqui, chegando em 6 de julho de 1919.